O texto: No dia 2 de fevereiro de 1941, nas páginas da revista carioca Vamos Ler!, Clarice Lispector publicou sua primeira tradução intitulada “Le missionnaire” (“O missionário”), um breve conto do escritor francês Claude Farrère que integra a coletânea Contes d’outre et d’autres mondes, de 1921. No conto, ambientado na época colonial, dois franceses viajam a cavalo até um posto fronteiriço que separa a China e o Tonquim, para descansar após uma longa viagem. Hospedam-se em uma cabana rústica, onde são acolhidos por um “homem da Ásia”, na verdade, um missionário espanhol solitário, com quem travam conversa, ceiam e fumam ópio. A título de memória, a reprodução da tradução mantém o português da época, com exceção do título, dispondo-a pela primeira vez ao lado de sua contraparte, o original.
Preparação dos originais: Gleiton Lentz, da (n.t.).
Fac-símile: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Fontes consultadas: Em português: Farrère, C. “O missionário”. Vamos Ler!, Rio de Janeiro, 2 jun. 1941, p. 32, 33 e 64. Em francês: Farrère, C. “Le missionaire”. In. Contes d’outre et d’autres mondes. Paris: Dorbon-Ainé, 1921, pp. 19-24.
O autor: Claude Farrère (1876-1957), escritor o oficial da marinha francês, nasceu em Lyon. Após seguir inicialmente os passos do pai, abandonou a carreira militar para se concentrar em sua atividade como escritor. Escreveu muitas novelas, a maioria ambientada em cidades exóticas como Istambul, Saigon e Nagasaki, tendo vencido o Prêmio Goncourt de 1905 com o livro Les civilisés. Escreveu também contos fantásticos, L’Autre côté (1928), e muitas histórias sobre o mar, como La Nuit en mer (1928) e La Sonate à la mer (1952). Em 1935 foi eleito para a Academia Francesa.
A tradutora: Clarice Lispector (1920-1977), escritora e jornalista brasileira, nasceu em Chechelnyk, na Ucrânia. Autora de romances, contos e ensaios, dedicou-se também à tradução. Começou a traduzir textos científicos quando ainda era estudante de Direito, nos anos 1940, e depois, documentos oficiais para a Agência Nacional. A partir da década de 1960, traduziu obras para a Reader’s Digest e para editoras como a Artenova, Ediouro e Rocco. Comentou sobre o ofício de traduzir em uma crônica publicada na Revista Jóia, “Traduzir procurando não trair” (1968), na qual tece reflexões acerca do ofício do tradutor, especialmente sobre a busca por ser fiel ao original.