A HQ "Página de Diário" (1903), adaptada do homônimo poema de Vittoria Agannor, mistura narrativa gráfica à linguagem das iluminuras. A voz lírica da composição se transfigura numa personagem que assiste a si mesma enquanto desenha e dá forma a suas melancólicas e solitárias visões. Contemplativa, Aganoor traduz a sua alma conforme os movimentos autunais, próprios de uma natureza em declínio, e mediante uma escrita que procura sempre se renovar. Está-se no século XIX, momento em que a poeta mulher arde obscuramente por detrás das janelas, nomes e convenções, impossibilitada de expandir seus desejos para além dos horizontes. E assim, ela, como uma folha negra e seca solta ao vento, assiste ao seu declínio e ascensão particulares, entoando, numa folha de diário, seus cantos femininos mais profundos, na tentativa de salvaguardar-se sem testemunhas.