O texto: Velimir Khlêbnikov escreveu O Zoo no verão de 1909, após uma visita ao Jardim Zoológico de São Petersburgo. Havia quem supusesse, quando de seu aparecimento, que esse poema fosse apenas uma brilhante imitação da antológica Song of Myself de Walt Whitman, hipótese à qual o próprio autor se opôs. Segundo o crítico literário russo Kornei Tchukóvski, mesmo “convencido de que... O Zoo é ligado por sua estrutura e sua sintaxe” à obra de Whitman, achava que “Khlêbnikov tinha o direito de distanciar-se do bardo americano...”, pois “emprestou de Whitman tão só a moldura para o quadro, mas fez o quadro sozinho, sem imitar a ninguém.” Apesar da semelhança estilística entre os dois poemas, a originalidade de Khlêbnikov, que se patenteia na descrição dos bichos antropomorfos, não gera dúvidas.
Texto traduzido: Хлебников, Велимир. Творения. Москва, 1986.
O autor: Velimir Khlêbnikov (1885-1922) foi o primeiro vanguardista da poesia russa. Seus poemas (O grou, 1909; Xamã e Vênus, 1912; Ladomir, 1920; entre outros), “supernovelas” (Guerra na ratoeira, 1915-1922; Zanguêzi, 1920- 1922) e manifestos futuristas (Trombeta dos marcianos, 1916), bem como sua tentativa de elaborar uma nova visão do universo, descobrindo as leis transcendentais do tempo, e a própria vida repleta de peripécias extravagantes, tornaram-no lendário. Quem era Khlêbnikov: paciente de vários hospitais psiquiátricos ou gênio que ampliara os horizontes da realidade; agitador cultural que se proclamara “Presidente do Globo Terrestre” ou grande poeta, criador de ricos neologismos, incríveis palíndromos e ousadas metáforas; andarilho que percorrera a Rússia, chegando ao Cáucaso e à Pérsia, ou cientista em busca da suma verdade? Até agora, essa questão permanece aberta.
O tradutor: Nascido na Bielorrússia, Oleg Andréev Almeida é poeta lusófono e tradutor. Mora no Brasil desde julho de 2005. Autor dos livros Memórias dum hiperbóreo (7Letras: 2008) e Quarta-feira de Cinzas e outros poemas (7Letras: no prelo). Idealizador do projeto “Stéphanos: enciclopédia virtual da poesia lusófona contemporânea”, mantido no site: www.olegalmeida.com. Traduziu O esplim de Paris: pequenos poemas em prosa de Charles Baudelaire (Martin Claret: 2010); Os cantos de Bilítis de Pierre Louÿs (IbisLibris: 2011); Canções alexandrinas de Mikhail Kuzmin para a revista (n.t.); verteu para o russo a peça teatral Tu país está feliz (Thesaurus: 2011) e uma série de poemas avulsos de Antonio Miranda. Sócio da União Brasileira de Escritores (UBE/São Paulo) desde maio de 2010.