O texto: Os dois textos presentes, “Processo-verbal”, lavrado pela polícia romena, e “Causas do suicídio”, obituário publicado em jornal local, assinado por um amigo próximo de Urmuz, foram selecionados no intuito de refletir sobre as circunstâncias da morte do autor e contextualizar sua presença no tempo. Além de parecer ter havido precipitação na declaração de suicídio, indícios nebulosos da morte – como os cartuchos não-disparados da arma e explicações imprecisas de um alegado desequilíbrio psíquico – fomentam até hoje discussões sobre o que haveria realmente acontecido naquela fria madrugada de 1923. O singelo obituário tenta revalorizar o pretenso suicida que, em vida, parece ter sido antes visto como um vívido intelectual enrustido na pele de um insosso burocrata, sem que se pudesse antever a fama póstuma que viria a ser atribuída a Urmuz.
Texto traduzido: Urmuz. Pagini bizare. Saşa Pană (ed.). Bucureşti: Editura Minerva, 1970
O autor: Urmuz (1883-1923), pseudônimo de Demetru Demetrescu-Buzău, escritor romeno, nasceu em Curtea de Argeș. Considerado o precursor do surrealismo na Romênia, seus escritos de vanguarda antecipam o Dadaísmo de Tzara e o teatro do absurdo de Ionescu. Publicou os primeiros textos em 1922, na revista Cugetul românesc, graças aos esforços do escritor Saşa Pană. Autor de um número reduzido de textos, quase um escritor casual, Urmuz, burocrata do poder judiciário, só conheceu fama póstuma, que se consolidou ao longo do tempo. Devido a uma pretensa neurastenia, suicidou-se aos 40 anos, com um tiro na cabeça.
O tradutor: Fernando Klabin, paulistano, mora em Bucareste, onde se formou em Ciência Política e desenvolveu, entre outras, atividades no campo turístico. Tem procurado difundir no Brasil a literatura romena, tendo já traduzido As Seis Doenças do Espírito Contemporâneo, de Constantin Noica, Senhorita Christina, de Mircea Eliade, Nos cumes do desespero, de Emil Cioran, entre outros. Para a (n.t.) traduziu Max Blecher, Eugen Ionescu, George Bacovia, Urmuz, Ciprian Vălcan, Oscar Lemnaru, Paul Celan e Cezar Petrescu.