O texto: Esta seleta contém três poemas atribuídos a Ossian. O primeiro, Lamentação de Minvane (1762), é um fragmento de um poema cujo inteiro teor dizia-se não poder recuperar, e encontra-se numa nota aposta ao final de Berrathon. Já os Hinos à Lua foram extraídos da abertura de dois poemas ossiânicos: Darthula e The Songs of Selma (ambos de 1762). Os Hinos são, na verdade, entrechos líricos que antecedem o desenrolar da ação. A prosa poética e as sugestões de morte atribuem aos fragmentos grande representatividade no tocante ao estilo e ao imaginário dos Poemas de Ossian. Tentou-se recriar em língua portuguesa alguns dos elementos da linguagem ossiânica, como o uso de construções verbais raras e improváveis. A tradução se baseia na versão revisada do texto, publicada em 1765 e recentemente reeditada pela Universidade de Edimburgo. Originalmente, as composições não possuem título próprio, pois integram ou seguem poemas completos. No entanto, há um costume bastante sedimentado de nomear traduções de trechos de poesia ossiânica, do qual esta tradução toma parte.
Texto traduzido: Macpherson, J. The Poems of Ossian and Related Works. Edinburgh: Edinburgh University, 2003, p. 140, 166, 198-199.
O autor: Os Poemas de Ossian foram uma criação de um poeta escocês (até então obscuro) chamado James Macpherson (1736-1796), que dizia tê-los traduzido a partir de originais de poesia gaélica que coletara em expedições (patrocinadas por expoentes do Iluminismo escocês) pelos Highlands. Apresentados ao mundo como composições de um velho bardo celta do século III d.C., os Poemas tiveram imensa ressonância nas letras ocidentais, sobretudo por seu estilo, marcado pela confusão dos gêneros épico e lírico, e por encarnarem muitas das suposições setecentistas acerca do gênio primitivo. Embora se tenha aferido que a maior parte das composições atribuídas a Ossian seja de Macpherson (apenas alguns episódios e traços estilísticos advêm efetivamente da tradição celta), seu legado é imorredouro. Trata-se de um capítulo incontornável para a compreensão da inflexão primitivista que marcou a literatura romântica, presente na obra de autores como Chateaubriand e Cooper.
O tradutor: Thiago Rhys Bezerra Cass é mestre e doutorando em Teoria Literária e Literatura Comparada junto à USP. Estudou a presença da linguagem e temática ossiânicas na prosa indianista de José de Alencar. Atualmente investiga a impossibilidade de sustentação de um universo épico pleno em dois poemas atribuídos a Ossian, Fingal e Temora.