O texto: Os três poemas ora apresentados pertencem à obra Elegias e Sátiras. O livro compreende cinquenta e três poemas e mais dezoito traduções de poetas franceses e alemães (Verlaine, Baudelaire, Villon, Heine etc.). Os versos das Elegias e Sátiras pronunciam-se como a expressão madura de um homem que desvela o fim da vida, a nulidade das coisas, mas que, sobretudo, versa em tom de corrosivo sarcasmo sobre a ruína do mundo, de si próprio, contrapondo a pureza à destruição, a esperança à desesperança, a vida ao ocaso, sem perder, muitas vezes, a ternura pelo que é simples e belo. Formalmente, segue a tendência das gerações anteriores (parnasiana e simbolista), mas seu discurso poético é original e inovador, bastante idiossincrático. Daí uma grande dificuldade de enquadrá-lo num movimento literário, ou mesmo de compreender-lhe a ideologia (certamente não se trata de um romântico decadente fora de época). Ode a um menininho deve ter sido escrita a um sobrinho do poeta, de nome Áris. Tanto este quanto Noite apresentam rimas; Os amores, diferentemente, foi escrito em eneassílabos brancos.
Texto traduzido: Καρυωτάκης, Κ. Γ. Τα λόγια σαν κομμάτια: όλα τα ποιήματα και πεζά. Αθήνα: Μοντέρνοι Καιροί, 1998.
O autor: Kóstas Karyotákis (1896-1928) é um dos melhores e mais importantes poetas gregos do séc. XX. Sua obra, marcada por forte pessimismo, mas entremeada de fino humor, foi concebida em décadas negras da história grega, e, entre outras coisas, vê-se nela uma tendência decadentista. Karyotákis nasceu na cidade de Trípoli (Peloponeso), e morreu - suicidou-se - em Préveza (Épiro). Apesar de o suicídio fazer jus ao teor de seus versos, parece que a sífilis o levou a dar fim à própria vida. Formou-se em direito, mas não obteve sucesso atuando como advogado, e viveu como funcionário público. Editou a primeira de suas três coletâneas poéticas (A dor dos homens e das coisas) em 1919, a segunda (Nepentes) em 1921, e a terceira (Elegias e Sátiras) em 1927, um ano antes de morrer. É principalmente esta última - obra madura e de muitas qualidades - aquela que lhe garante lugar cativo entre os poetas neogregos canônicos.
O tradutor: Théo de Borba Moosburger nasceu em Curitiba, em 1981. Formou-se em letras (grego antigo) na UFPR (2004), fez curso de grego moderno na Universidade Nacional de Atenas (2001) e concluiu o mestrado em Estudos da Tradução na UFSC (2008). É tradutor e professor de grego (antigo e moderno), e de nórdico (islandês) antigo.