O texto: Tradução de duas “peças de flores” de Jean Paul Friedrich Richter, incluídas na obra Siebenkäs, de 1796: “Discurso do Cristo morto do alto do edifício do mundo, que nenhum Deus existe”, que trata da angústia cristã acerca da morte de Cristo e das crenças na imortalidade da alma e na inexistência divina. E também, da vaidade de todas as coisas terrestres e de seu entrelaçamento com a assertiva da inexistência de Deus, em que o ateísmo proporciona os aniquilamentos do universo espiritual. E “O sonho no sonho”, que aborda o sonho de Richter em outro mundo, sublime e eterno, sob a porta colorida do Éden, em que a Santa Virgem descansa com seu filho. Ao mesmo tempo, o sonho se torna a expressão ambivalente do ambivalente desdobramento do eu, além de ser o elemento motivador para o desenvolvimento do processo narrativo e do vínculo recíproco entre o eu e o Doppeltgänger.
Texto traduzido: Richter, J. P. F. „Siebenkäs“. In. Jean Paul werke in drei Bänden, Band I. Herausgegeben von Norbert Miller, Nachwort von Walter Höllerer. München: Carl Hanser Verlag, 1986.
O autor: Jean Paul, nascido Johann Paul Friedrich Richter (1763-1825), escritor alemão, nasceu em Wunsiedel. A adaptação francesa do prenome Johann para Jean se deve à homenagem ao filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau. Seus primeiros escritos são sátiras chistosas e idílios sentimentais no estilo de Swift e Ludwig Liskow. As obras, com seus tons humorísticos e satíricos, tendem para o realismo, ao buscar um equilíbrio entre o idealismo sentimental e a descrição realista da sociedade burguesa. A escrita de Richter supera a mudança de gêneros, dos ideais formais do Classicismo à sentimentalidade e transcendentalismo intuitivos do Frühromantik.
O tradutor: Marco Antônio Barbosa de Lellis é graduado em Filosofia (PUC-MG), mestre em Teoria da Literatura (UFMG) e doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada (UFMG). Professor Universitário nos cursos de Direito, Enfermagem, Nutrição e Psicologia. É autor da tese Doppelgänger/Doppeltgänger: topoi em Siebenkäs (1796), de Jean Paul Friedrich Richter e O duplo (1846), de Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski, de 2021, em que investiga os consagrados conceitos românticos Doppelgänger e Doppeltgänger, cunhados por Jean Paul Friedrich Richter em Siebenkäs.