O texto: O conto “As gaivotas” (Οι γλάροι) foi originalmente publicado no livro Αιγαίο (Egeu), dado a lume em 1941. O texto é representativo da prosa de Ilías Venézis: a narrativa enxuta constrói-se numa linguagem fácil e fluente, com frases por vezes secas, dinâmicas e de intensidade dramática e poética. O lirismo característico da obra de Venézis, constituído por um referencial simbólico tipicamente grego (mar, ruínas) é aqui perceptível, assim como sua temática reiterada: a derrota, a perda, a desolação, o exílio. Se, por um lado, essa temática reflete a biografia do autor, por outro, trata-se de uma constante na literatura grega de sua geração (a chamada “geração de 30”), marcada pelo grande tormento da derrota de 1922 na Anatólia e subsequente troca forçada de populações entre Grécia e Turquia – período muito retratado por Venézis, ele próprio vítima de perseguições étnicas.
Texto traduzido: Βενεζης, Ηλίας. Οι γλάροι. Η μεσοπολεμική πεζογραφία. Τόμος Β. Σελίδες 404-410. Αθήνα: Σόκολη, 1992.
O autor: Ilias (ou Elias) Venézis, importante prosador grego do séc. XX, nasceu em 1904 na vila Kydonies (em turco Ayvalık), na Ásia Menor (à época Império Otomano). Sua vida foi difícil, marcada por peripécias e eventos dolorosos: em 1922, durante a perseguição a comunidades gregas na Revolução Turca, Venézis foi capturado e passou mais de um ano em campo de trabalhos forçados. Sendo um dos pouquíssimos sobreviventes do campo, vai à Grécia em 1923. Sofreu represália política na ditadura de Metaksás e escapou de ser executado durante a ocupação nazista da Grécia. Morreu em 1973, em Atenas, vítima de câncer. Sua obra foi bastante aclamada na Grécia, e também fora dela, por inúmeras traduções.
O tradutor: Théo de Borba Moosburger é bacharel em Letras (grego clássico) pela UFPR, e possui mestrado e doutorado em Estudos da Tradução pela UFSC. Tem traduções publicadas do grego antigo, medieval e moderno, e também do islandês. Para a (n.t.) já traduziu Kostas Karyotákis, Giórgos Seféris e Aléxandros Papadiamántis.