O texto: Apresentam-se cinco dos mais representativos poemas cortesãos da França renascentista musicados pelo compositor Clément Janequin (c. 1485-1558), um dos maiores mestres da polifonia renascentista. Com temas variados, as “letras” das canções medievais eram normalmente breves e muitas vezes escritas por poetas cortesãos. Entre os compositores da “canção parisiense” encontramos alguns que preferi-am a descrição contemplativa da mulher, e outros que, longe de conce-ber um amor idealizado, retomavam ideias já presentes em autores clássicos como Catulo, construindo peças satíricas e eróticas. Tais com-posições, que também se baseavam em elementos, lendas e ditos populares, sempre se apresentavam com cores muito vivas, lances jocosos e divertidos, portadoras de uma crueza fascinante. Parece que Janequin nutria especial predileção por poemas licenciosos, tendo musicado vários deles. Aliás, é de se notar que os poemas cortesãos – os de matriz idealista, os sacros e os pornográficos – eram cantados não mais em um contexto cavalheiresco medieval, mas palaciano-renascentista.
Textos consultados: Schmidt, Albert-Marie (ed.). Poètes du XVIe siècle. Paris: Pléiade, 2006; e Janequin, Clément. Le verger de musique (CD com encarte). A sei voci, direction de Bernard Fabre-Garrus. S./l. (France): Audivus Astrée, 1996.
Os autores: Clément Marot (1496-1544) para "Martin menoit son porceau au marché" e "Tetin refaict, plus blanc qu’ung oeuf," e Mellin de Saint-Gelais (1491-1558), para "Ung jour que madame dormoit". As canções "Ung gay bergier prioit une bergiere" e "Si d’ung petit de vostre bien," são anônimas.
O tradutor: Andityas Soares de Moura é poeta, tradutor, ensaísta e professor universitário na Faculdade de Direito da UFMG. Mestre em Filosofia do Direito e Doutor em Direito e Justiça pela UFMG. Publicou os poemários Ofuscações (1997), Lentus in umbra (2001), OS enCANTOS (2003), FOMEFORTE (2005), Algo indecifravelmente veloz (antologia poética portuguesa, 2007) e Auroras Consurgem (2010). O seu ensaio A letra e o ar: palavra-liberdade na poesia de Xosé Lois García foi editado em Portugal (2004) e na Galiza (2009). Organizou o volume Lírica de Camões: uma seleção (2004) e traduziu A rosa dos claustros (2004), de Rosalía de Castro, Isso (2004), Com/posições (2007) e dibaxu/debaixo (2007; 2009), todos de Juan Gelman.