O texto: Como se sabe, desde 1944, graças ao trabalho de tradução empreendido por Oscar Mendes e Milton Amado (Ed. Globo), dispomos de toda a obra de ficção de Poe no Brasil. Ou melhor, de quase toda. A edição da Globo traz 66 contos, ao passo que o cânone da prosa literária poeana se compõe de 69 textos. Esses três textos faltantes são os seguintes: 1. o inacabado The Journal of Julius Rodman, romance inacabado; 2. The Light-House, manuscrito incompleto de 4 páginas; 3. Von Kempelen and His Discovery, publicado em 14 de abril de 1849 em Flag of Our Union. Foi o último conto escrito e publicado em vida por Poe. Von Kempelen, mais do que uma sátira, consiste na elaboração literária de um hoax, isto é, um artigo jornalístico pseudocientífico que se apresenta como verdadeiro – gênero muito em voga na época, e o que o distingue de um hoax habitual são suas pretensões literárias. Como disse Poe a um editor a quem submeteu o conto: “Eu o entendo como uma espécie de ‘exercício’ ou experiência no estilo da plausibilidade ou verossimilhança. [...] Creio que [este] quiz é a primeira tentativa literária desse gênero de que se tem notícia”. Com a tradução deste derradeiro conto de Poe, até agora inédito no Brasil, tem-se completa sua obra de ficção entre nós.
Texto traduzido: Poe, Edgar Allan. “Von Kempelen and his Discovery”. Flag of Our Union (Boston), April 14, 1849, vol. 4, no. 15, p. 2, cols. 1-3.
O autor: Edgar Allan Poe nasceu em 1809, em Boston, de pais pobres, atores teatrais ambulantes. Ingressou na universidade em 1826, quando se inicia sua carreira alcoólica; ficando sem recursos, abandona os estudos no ano seguinte, quando publica sua primeira obra, Tamerlão e Outros Poemas. Levando uma existência difícil, Poe escreve poemas, contos, resenhas e críticas literárias. Tido como o pai do romantismo sombrio e do conto policial, poeta de rigor quase matemático, após a morte da esposa em 1847 afunda-se ainda mais no álcool. Tenta se recuperar, mas, em circunstâncias jamais esclarecidas, sucumbe à inconsciência e ao delirium tremens numa viagem a Baltimore. Após alguns dias agonizando no hospital, morre em 7 de outubro de 1849, dizendo: “Ó Senhor, ajudai minha pobre alma”.
A tradutora: Denise Bottmann, historiadora, pesquisadora e ex-docente do Departamento de Filosofia da Unicamp, dedica-se ao ofício de tradutora desde 1985, com mais de cem obras de tradução publicadas, sobretudo na área de humanidades.