O texto: O poema “Canção da minha nudez” (“Canto della mia nudità”), de Antonia Pozzi, faz parte dos poemas inéditos de Parole, livro originalmente publicado em 1939. Nele, a poeta fala da nudez física e psicológica, da oferta de si, nua e plena, que parece ficar sem resposta, uma vez que só será aceita pela morte. Apresenta-se dos cabelos aos pés, caracterizada pela magreza e pela palidez, como se o sangue não corresse mais por suas veias, pois apenas no meio do peito aparece uma pulsação azul. Joelhos, tornozelos e articulações são magros, mas firmes como um puro-sangue. Fala também da solidão, que encerra o poema, ao dizer que um dia se curvará se encontrar o amor, mas que em outro ficará nua e sozinha, debaixo da terra, quando a morte a chamar. Além da resignação desoladora, emerge a força do adjetivo utilizado, referente a aspectos físicos de seu próprio corpo e a aspectos mais introspectivos, que revelam inquietação, tensão e languidez.
Texto traduzido: Pozzi, A. Parole. Milano: Garzanti, 1989.
A autora: Antonia Pozzi (1912-1938), poeta italiana, nasceu em Milão. Estudiosa de estética e de Flaubert, é considerada uma das vozes mais originais da poesia moderna italiana, pois manifesta tanto influências do Crepuscularismo quanto do expressionismo alemão, ao desenhar atmosferas desoladas, mas carregadas de sensibilidade. Reservada como suas palavras, buscava transferir peso e substância às imagens e difundir sentimento nas coisas transfiguradas. Seus poemas, escritos entre 1929 e 1938, foram publicados postumamente em 1939, na antologia Parole. Liriche. Além da literatura, dedicou-se também à fotografia e ao piano. Em um período histórico marcado pelo fascismo, suicidou-se aos 26 anos, após ingerir uma dose excessiva de barbitúricos.
O tradutor: Gleiton Lentz, editor da (n.t.), é pós-doutor em Estudos da Tradução (PGET/UFSC), doutor em Literatura (UFSC/Università di Firenze), tradutor e revisor. Para a (n.t.) traduziu Dino Campana, Carlo Michelstaedter e Isabela di Morra.